O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) divulgou nesta quarta-feira, 29, uma nota pública de repúdio à forma como parte da imprensa local e alguns representantes políticos têm tratado o episódio envolvendo a declaração de óbito de um recém-nascido prematuro extremo em Rio Branco.
Segundo a entidade, manifestações públicas recentes têm sido marcadas por acusações precipitadas e julgamentos morais, transformando um episódio doloroso em “espetáculo” e promovendo uma “execração pública” das médicas envolvidas antes mesmo de qualquer apuração técnica dos fatos.
“Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos, inclusive àqueles injustamente acusados”, destaca o documento.
O sindicato também criticou comunicadores que, de acordo com a nota, chegaram a exigir que as médicas se justificassem publicamente, insinuando que o silêncio representaria culpa. Para o Sindmed-AC, tal comportamento apenas reforça a “tentativa de espetacularizar a dor”, sem levar em conta o sofrimento tanto da família quanto das profissionais envolvidas.
“Medicina não é uma ciência exata”
A entidade ressaltou que a medicina envolve variáveis complexas e que um desfecho trágico não significa, por si só, erro ou negligência.
“Quando falhas acontecem — e são devidamente apuradas — elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de preservar vidas”, diz o texto.
O sindicato também demonstrou indignação com a exposição pública das médicas, lembrando que, em outros casos, a imprensa costuma preservar a identidade até de acusados de crimes graves. “Causa perplexidade observar que, neste caso, tenha sido feita a exposição dos nomes, submetendo-as a um julgamento social devastador”, afirma.
No documento, o Sindmed-AC questiona se o silêncio das profissionais não seria resultado do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente. A nota também faz uma reflexão sobre o tratamento dado à categoria médica em momentos de crise.
“Pouco se fala das vidas salvas, dos plantões exaustivos e dos sacrifícios pessoais. Mas basta uma suspeita — ainda que não comprovada — para que recaia sobre o médico um peso desproporcional de críticas e acusações”, destaca a entidade.
Por fim, o sindicato reafirma solidariedade e apoio às médicas envolvidas, que classifica como profissionais de conduta ilibada e reconhecida competência técnica, além de expressar respeito e pesar à família do recém-nascido.
O texto encerra com um apelo à imprensa, aos gestores públicos e à sociedade para que atuem “com responsabilidade, prudência e empatia”, permitindo que os fatos sejam apurados pelas instâncias competentes, sem julgamentos sumários ou execração pública.
 
				
